Galera, estou fazendo estágio básico da Saúde na Instituição Claudio Amâncio, que trabalha com acolhimento, recuperação, tratamento e reinserção na sociedade e grupo familiar dos adictos.
Para dar uma força no pré-projeto e projeto, estou fazendo algumas pesquisas.
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Para dar uma força no pré-projeto e projeto, estou fazendo algumas pesquisas.
Dependência Química e a Importância da Família na Busca pela Recuperação
Escrito por: Elizandra Antunes Silva, Gesner Batista Machado, Larissa Luiza Andrade Bento, Marina Friguetto, Sarah Lara Naves e Ana Paula Barbosa | Publicado em: 26 de Dezembro de 2012
Categoria: Saúde Mental
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Resumo: o presente artigo ressalta a influência da família no processo de recuperação, tendo em vista o resultado de uma de pesquisa realizada na Casa de Recuperação Nova Vida. Observamos como é importante o acompanhamento aos dependentes químicos e como a família é forte influenciadora. Realizamos entrevistas e questionários que demonstraram que os internos em sua maioria possuem grande motivação pela busca da recuperação tendo como incentivo o apoio familiar. Além disso, realizamos pesquisas bibliográficas sobre o tema, abordamos a importância da participação dos membros familiares e como os mesmos precisam estar preparados psicologicamente, pois se faz necessária a orientação para saber lidar com as dificuldades de se ter um membro na família que é dependente químico e assim enfrentar tais problemas para um resultado positivo na recuperação. Concluímos que a família é a grande incentivadora do primeiro passo do tratamento e isso deve ser tratado como mecanismo básico e primordial de recuperação, pois o vinculo entre ambos serve como estímulo para prosseguir com o tratamento mesmo que seja doloroso e exaustivo.
Palavras-chave: Dependentes químicos, recuperação, família.
Introdução
O uso de drogas tem um impacto enorme nas relações sociais e familiares do usuário, portanto para que haja uma possível recuperação, a família é parte fundamental. Esta afirmativa se tornou mais consistente depois de realizarmos a pesquisa com os internos e ter como principal foco na busca pela recuperação do dependente pautada na família.
Podemos afirmar que a família é a motivação para um interno ir além da sua busca, mesmo quando se quer desistir, ela é um ponto de equilíbrio e sustentação, é uma partida para um convívio social saudável.
O presente artigo descreve um material elaborado, o qual consistiu em entrevistas, questionários, atividades e gincanas de superação, que foram todos direcionados aos internos que se recuperavam na Casa de Recuperação Vida Nova.
O que motivou a elaboração deste material foi o quanto eles falam da família como um ponto importante, eles a colocam como o foco para superar todas as dificuldades que enfrentam no tratamento, pensam em reconstruir sua imagem pautada nos valores já recebidos pelos pais e familiares a fim de se tornarem orgulhosos de si.
O objetivo principal deste material é ressaltar acima de tudo a importância da família, que muitas vezes se culpam, negam ou se escondem, pois o uso de drogas em seu contexto é uma problemática a mais, porém quando o indivíduo em recuperação vê que apesar de tudo o respaldo da família acontece, busca um melhor tratamento.
Referencial
A problemática do consumo de drogas no país vem crescendo. Sendo já conhecido que entre as drogas, o álcool é a de maior uso entre os brasileiros. Segundo Duarte e Formigoni (2011, p. 52), em 2005 os dados de um “levantamento apontaram que 12,3% das pessoas com idades entre 12 e 65 anos eram dependentes do álcool”. Os estudos também demonstram o consumo de drogas em faixas etárias cada vez mais precoces. Um conjunto de fenômenos que envolvem o comportamento, a cognição e a fisiologia é o que chamamos de Dependência Química.
“Os fenômenos de droga angustiam os pais, preocupam os educadores, interpelam as autoridades, fascinam os jovens. Muitas vozes se levantam para condenar o seu uso, para exigir medidas repressivas mais enérgicas; para punir os grandes traficantes, para doutrinar a juventude para estabelecer programas preventivos... Mas o consumo de drogas continua a alastrar-se pelo mundo, a alastrar-se pelo Brasil” (BUCHER; Richard, 1988, p.09).
Entrar em contato com esse grupo de dependentes químicos foi um fator que trouxe muita motivação a todos, uma vez que ainda como estudantes, nos deparamos com situações tão comuns em nosso meio de forma interessante, prazerosa e proveitosa. Segundo Olievenstein (1982, p. 06) “Não existe ciência sem consciência, e não se pode lutar contra a droga quando se tem uma visão mecanicista do problema e quando a gente não interroga a respeito das motivações dos que se tornam usuários”.
Não nos cabe aqui analisar ou refletir sobre os motivos que levam ao uso, abuso ou dependência química, nem discutir sobre políticas públicas que intervenham na distribuição das drogas, descriminalização ou meios eficazes de recuperação. Este artigo trata-se da análise dos dados colhidos junto a um grupo de homens, internos da Casa de Recuperação Nova Vida, dados esses que demonstraram a real motivação pela busca de recuperação.
Conforme escreveu Bucher (1998, p. 78) “Quando o drogado se decidi por procurar uma ajuda terapêutica, pode-se presumir que a sua motivação contenha um desejo de mudança e de libertação das drogas”. Apesar de toda instabilidade emocional perceptível nos internos, o desejo de mudança sobrepunha as dificuldades. Parece que cada novo dia buscando recuperação trazia consigo uma força renovadora que alicerçava o processo tão doloroso que pode ser a recuperação.
Segundo relatou Gikovate (1992, p.70) “Quando um drogado decide se livrar do vício, ai sim ele passará por uma das experiências mais complicadas e dolorosas que se pode ter na vida. Ai sim ele terá de crescer tudo que não cresceu antes”.
No projeto realizado sobre o tema: “O que levam os dependentes químicos a procurarem ajuda”, podemos pesquisar quais as reais dificuldades que um adicto encontra na busca pela recuperação, mas principalmente através dessa pesquisa foi possível descobrir com as análises de dados colhidos por meio de questionários e entrevistas as motivações que conduziram e mantiveram os internos da Casa de Recuperação Vida Nova no processo de recuperação por meio de internação.
Metodologia
O método utilizado foi o dedutivo, segundo Andrade (2001, p. 131) destaca que “a dedução é caminho das consequências, pois uma cadeia de raciocínio em conexão descendente, isto é, do geral para o particular, leva a conclusão”, ou seja, partindo das teorias e leis, chega-se a previsão de acontecimentos particulares.
Para Lakatos e Marconi (1987, p.86) pesquisa bibliográfica “trata-se do levantamento, seleção e documentação de toda bibliografia já publicada sobre o assunto, com o objetivo de colocar o pesquisador em contato direto com todo o material já escrito sobre o mesmo”.
Na Pesquisa de Campo, observamos e coletamos os dados diretamente no próprio local do fato em estudo, caracterizando-se pelo contato direto com o mesmo, sem interferência do pesquisador, pois os dados são observados e coletados tal como ocorrem espontaneamente (LAKATOS e MARCONI, 1996).
Com bases nesses métodos, buscamos de forma mais clara e objetiva possível, os dados e os resultados obtidos durante a pesquisa.
Resultado
Os motivos que levaram os internos da Casa de Recuperação Nova Vida procurar ajuda são diversos, mas de acordo com os questionários aplicados em nossa pesquisa o que mais influencia na tomada da decisão é realmente a família, dado que pode ser conferido através do gráfico abaixo relacionado à pergunta de numero quatro do questionário:
4 - A que você atribuiu a sua busca pela recuperação?
Pesquisando sobre a que atribuem a busca pela recuperação, percebemos que não é nada fácil aceitar que é preciso ajuda, alguns por insistência de amigos, outros poucos por vontade própria e a maioria segundo as respostas obtidas por incentivo dos familiares. Porem, mesmo com esse incentivo o que mais acontece é que a grande maioria quando decidem se tratar passa por sérias dificuldades.
O estado em que se encontravam era degradável, viviam como mendigos, chegando a roubar, espancar e até matar inocentes em busca de dinheiro ou objetos para sustentar o vício. Nessa fase é comum o aparecimento de transtornos psíquicos e comorbidades. O dependente químico chega ao local de reabilitação com seu estado emocional bem debilitado, e suas características comportamentais podem incluir a irritabilidade, agressividade, mentiras, diminuição dos cuidados como, por exemplo, de higiene, perda de valores, depressão, síndrome do pânico, esquizofrenia, entre outras.
Seu estado físico é também debilitado, ocorre a perda das habilidades motores, percepção, diminuição da atenção, concentração, memória, alteração do fígado, pulmões, estômago e danos cerebrais.
Conforme Papalia (2006, p.453). “O uso pesado da maconha pode danificar o cérebro, o coração, os pulmões e o sistema imunológico, sua fumaça geralmente contém 400 carcinógenos.” Foi nítido a todos os alunos que desenvolveram esse projeto que alguns internos manifestavam sintomas de debilidade física consequente das drogas. Como relata Bucher (1988, p. 82) “uma intoxicação aguda pode se traduzir clinicamente em depressão dos centros nervosos comparada à respiratória e coma. Isto pode ocorrer quando se administra uma dose excessiva de álcool, barbitúricos, ansiolítico e opiáceos (morfina e heroína).”
Muitos experimentam a síndrome da abstinência que ocorre pelo ato de renúncia do vício, ela pode causar sérias alterações comportamentais e físicas, pode apresentar sintomas como sofrimento mental, sofrimento físico, mal estar e tem níveis com intensidades diferentes.
Como relata Duarte e Formigoni (2006, p. 96).
Os principais sintomas de abstinência podem variar de intensidade, desde um leve nervosismo ou irritação, insônia, sudorese (aumento da transpiração), diminuição de apetite e tremores, podendo chegar a um quadro muito grave com febre, convulsões e alucinações (o chamado “delírio tremens” – que não deve ser confundido com simples tremores, também comuns nas fases iniciais da síndrome de abstinência).
Os transtornos podem mudar o comportamento da pessoa e esse comportamento pode ser mal interpretado pelos familiares que muitas vezes chamam de “má vontade” ou “falta de vergonha”. Por isso a informação se torna uma arma importante para as famílias. Um dependente lançado a mercê da sorte, sem o apoio da família terá suas chances de recuperação diminuídas em muito. Por outro lado, quando a família não busca uma melhor compreensão sobre a dependência química e recuperação, sua participação no tratamento fica limitada. O dependente viveu muitas situações de trauma que ainda estão presentes e a confiança em si não existe mais. É preciso primeiro recuperar a confiança do indivíduo para então começar a fazê-lo entender a importância de estar ali.
A família quase sempre não está preparada para a situação, está desestruturada, cansada, chegaram à exaustão física e psíquica, porém sabem que ainda é preciso lutar. Muitas vezes esses familiares podem ser diagnosticados com uma patologia chamada co-dependência, que não nos cabe aqui relatar tendo em vista que os estudos que deram origem a esse artigo foram aplicados sobre os internos em tratamento e não sobre os familiares, porém é necessário buscar ajuda e orientação com profissionais da saúde, clínicas com regime de internações, grupos de ajuda, etc. Os familiares sabem que são eles que ainda representam o porto seguro daquela pessoa e que precisam estar ali presente e ativos na sua recuperação. Muitos fatores relacionados a problemas sociais, psicológicos e biológicos podem desencadear o abuso das drogas e a dependência química.
É a família quem primeiro encoraja o usuário a se tratar, e mesmo a beira do “precipício” está lá como forma de motivação. Muitas vezes o dependente não consegue entender o quanto a família o quer bem e recuperado, mesmo que ela tome partido da situação a fim de ajudá-lo.
Apesar de serem muitas vezes as pessoas que mais sofreram com a dependência química do interno, os laços de amor fraternal são em muitos casos maiores que as lembranças de destruição.
Para Lopes (1996, p. 78):
A família tem um papel de destaque no processo de recuperação do dependente, buscando impedir que o problema avance e auxiliando no tratamento mais adequado para a situação. Em alguns casos, isto torna-se particularmente difícil pela fragilidade com que todos os seus membros chegam a este ponto.
Portanto, apesar de toda dificuldade que cerca o problema da dependência química e suas implicações no contexto familiar, identifica-se como fator primordial a participação dos familiares bem como a ajuda na manutenção da recuperação. O processo de recuperação deve levar toda a vida tendo como alicerce o fortalecimento dos laços de amor saudável entre dependente em recuperação e familiares.
Conclusão
Concluímos segundo as análises dos dados e depoimentos durante a aplicação do projeto, que o apoio da família é fundamental para o processo de recuperação. A busca solitária pela recuperação segundo a bibliografia analisada pode recorrer em muitas recaídas, fracassos e por fim a desistência da recuperação. Para os internos da Casa de Recuperação Nova Vida seus familiares desempenham um papel essencial no seu tempo como internos. Os motivos subjetivos pelos quais os internos responderam ao questionário afirmando o papel das famílias podem ser os mais variados como culpa pelo passado, questões relacionadas a desestrutura familiar, necessidade de aceitação, entre outros, porém fica evidente que dentre as muitas faces que a recuperação da dependência química engloba, a participação da família é fundamental.
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Autores
Elizandra Antunes Silva - Estudante do Curso de Psicologia da Universidade de Franca cursando o 4° semestre da disciplina Laboratório de Pesquisa II.
Gesner Batista Machado - Estudante do Curso de Psicologia da Universidade de Franca cursando o 4° semestre da disciplina Laboratório de Pesquisa II.
Larissa Luiza Andrade Bento - Estudante do Curso de Psicologia da Universidade de Franca cursando o 4° semestre da disciplina Laboratório de Pesquisa II.
Marina Friguetto - Estudante do Curso de Psicologia da Universidade de Franca cursando o 4° semestre da disciplina Laboratório de Pesquisa II.
Sarah Lara Naves - Estudante do Curso de Psicologia da Universidade de Franca cursando o 4° semestre da disciplina Laboratório de Pesquisa II.
Ana Paula Barbosa - Professora Orientadora do Projeto, Docente do Curso de Psicologia da Universidade de Franca, Especialista em Didática, Mestre em Educação pela Universidade Federal de São Carlos, Doutora em Serviço Social pela UNESP de Franca.
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Referências:
ANDRADE, M. M, Introdução a Metodologia do Trabalho Científico. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2001.
BUCHER, Richard. As Drogas e a Vida: uma abordagem biopsicossocial. São Paulo; EPU, 1998.
DUARTE, Paulina do Carmo Arruda Vieira; FORMIGONI, Maria Lúcia Oliveira de Souza. Fé na prevenção: prevenção ao uso de drogas em instituições religiosas e movimentos afins. Brasília: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2011.
GIKOVATE, Flávio. Drogas: Opção de perdedor. São Paulo: Moderna, 1992.
LOPES, Caho. Cara a cara com as drogas, Porto Alegre: Sulina, 1996.200p.
MARCONI, Maria de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1982.
OLIEVENSTEIN, Claude. Drogas e Drogados: O indivíduo, a família, a sociedade. São Paulo; EPU, 1982.
PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Uso de drogas ilegais. Separata de: Desenvolvimento Humano, São Paulo, Oitava Edição.
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